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Thursday, December 28, 2006

Rár

Nosso passeio pelo bosque acabou se estendendo além do planejado. Foi quando Hobbes e eu dedicidimos que era hora de exercitar nosso lado escoteiro para o caso de precisarmos algum dia. Fixamos residência em uma grande árvore e passamos lá uma noite agradável. Mas como nossos suprimentos se esgotaram rapidamente e o suposto tigre selvagem não foi capaz de arranjar-nos um alce suculento, voltamos pra casa logo de manhã.

Quando chegamos avistei na frente de casa uma viatura policial e ao entrar em casa mamãe veio correndo e gritando como louca. Apertou-me, também como louca. E disse, como louca, que estava muito preocupada. E isso só porque eu havia passado a noite fora. Incrível como os adultos podem ser carentes às vezes.

Depois passaram um sermão dizendo que eu não devia bancar o escoteiro sem os devidos preparos e sem um adulto por perto. Incrível como também podem ser tapados. Mas as coisas logo se ajeitaram com a chegada da neve anunciando que o Natal estava próximo.

Eu e Hobbes aproveitamos pra confeccionar nossos bonecos de neve. Mas ao vê-los, mamãe e papai disseram-me que eu estava desenvolvendo um espírito muito rebelde, passando noites fora de casa e moldando minha subversão em inocentes bonecos de neve. Por isso, disseram que eu deveria ir ver um tal psicólogo.

Quando vi o psicólogo, notei que na verdade se tratava do Barba-Ruiva (embora ele negasse sua identidade), e por isso comecei a gostar muito dos nossos encontros. Imaginem, um pirata de verdade! E ele não era como os outros adultos que nunca tem tempo pra nada: o Barba-Ruiva sempre me dava ouvidos. Comecei a contar-lhe dos nossos feitos fantásticos e nossas aventuras incríveis (e, claro, dos nossos bonecos) e ele, sempre muito atento, tomava nota de tudo em um caderninho.

Seu problema era que sempre no clímax das histórias (tenho que mencionar aqui as interpretações de Hobbes que muito me auxiliaram nas narrativas) ele dizia "sua hora acabou" e saía. Devia ser um pirata ocupado com muitos navios a pilhar. Apesar disso, eu estava aprendendo muito com o Barba-Ruiva, alguns nós muito interessantes na cauda do Hobbes.

Mas houve um dia em que eu estava indo ver o Barba-Ruiva e ouvi mamãe e papai conversando no carro:

- As sessões não estão adiantando muito.
- Não estão - falou papai.
- O psicólogo disse que não está evoluindo.
- É um caso perdido.
- Agora ele acha que é um pirata.

Naquele dia após meu encontro com o Barba-Ruiva soube que seria a última vez que o veria. Mamãe e papai disseram qualquer coisa como "as coisas não estão andando", mas eu sabia que ele havia zarpado para alguma viagem perigosa atrás de tesouros antigos.

Agora, estou me preparando pro dia em que ele vai voltar e nos pegar. Hobbes já está aprendendo a falar como um papagaio, acho que assim Barba-Ruiva poderá aceitá-lo a bordo. Mas enquanto o destemido pirata não volta, vamos limpar o convés e continuar a toda vela com o Calvinbol. Rár.

1 comment:

Unknown said...

Essas férias foram incríveis mesmo,
(ou noite, hauhauahua)
muito acampamento.
Pena que tudo acaba,
e a gente tenha que se despedir
de tudo e todos.
Sentirei saudades de você, calvin ou hobbes, ou dos dois.
Beijos e bom ano de diversão.